A temporada 2020 está sendo atípica para o futebol mundial,
já que o esporte mais popular do mundo foi interrompido por conta da pandemia
da covid-19. Além dos clubes, a paralisação também afeta outros setores da
engrenagem como a arbitragem. E como será que os árbitros enxergam e enfrentam
o atual momento?
“O ano começou muito bom. Para uma primeira vez apitando a
Copa São Paulo, fiquei muito satisfeito com o resultado. Infelizmente veio essa
pausa, mas não me desmotivei. Estamos tendo atividades constantes com a comissão
(de árbitros) e é justamente para isso, não deixar que nos atrapalhe e
principalmente para estarmos prontos quando os jogos retornarem”, explicou
Matheus Delgado.
Durante a Copa São Paulo, dos 80 árbitros centrais, 14 deles
tinham apenas 21 anos. E duas jovens apostas da Comissão Estadual de
Arbitragem, presidida por Ana Paula Oliveira, se destacaram ao longo da
competição júnior: Fabiano Monteiro dos Santos e Matheus Delgado.
“Tive grandes oportunidades e seria um ano que prometia.
Acabou 'atrapalhando' na parte psicológica por saber que outras grandes
oportunidades poderiam aparecer, por não poder estar fazendo aquilo que mais
gosto, e por não saber até quando vai durar (pausa) e na parte física, por ter
que adaptar curtos espaços de treino dentro de casa, sendo praticamente difícil
manter o nível de antes”, disse Fabiano Monteiro dos Santos, ainda jovem no
apito.
Fabiano dos Santos, de 22 anos, trabalha em uma empresa de
transporte ao lado do pai, Carlos Alberto dos Santos, e iniciou a sua carreira
na arbitragem aos 14 anos, em Santo André, onde o seu pai era presidente de
clube amador da cidade. Formado em 2017, o árbitro superou o falecimento da
mãe, Sonia Paiva Monteiro dos Santos, um dia antes da sua formatura para seguir
na carreira.
Matheus, também com 22 anos, teve no pai, Demetrius
Candançan, ex-árbitro da FPF, a inspiração para o apito. O jovem explicou sobre
a rotina de treinamentos durante a quarentena. “No início foi um pouco difícil,
uma nova rotina, o tipo de treino, tudo isso influencia. Mas ao longo do tempo
foi ficando melhor e vejo que não perdi nada em relação à parte física, estamos
tendo um suporte do 'Pilar Físico' e recebendo treinamentos constantemente com
exemplos de treinos, intensidade e duração. É uma fase diferente do que
estávamos acostumados, mas não podemos deixar isso nos atrapalhar, portanto
estamos dando nosso máximo para quando retornarmos aos gramados estarmos prontos”,
disse.
Parte psicológica e retomada
De acordo com um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o número de casos de depressão
dobrou no Brasil desde o início da quarentena. Entre março e abril, alavancou
de 4,2% para 8%, enquanto para os quadros de ansiedade o índice foi de 8,7%
para 14,9%.
Pensando na parte psicológica, a FPF tem acompanhando, por
reuniões virtuais, a rotina dos árbitros. “A questão psicológica é fundamental
também, de uma hora para outra a nossa rotina mudou completamente né? Os finais
de semana quase sempre fora de casa, jogos, viagens, acredito que todos
estranharam essa mudança no início. Tivemos o auxílio da comissão com
atividades propostas, aplicativos e reuniões, visando amenizar os efeitos dessa
quarentena e para mantermos o foco, já que é uma fase e tudo isso vai passar”,
explicou Matheus.
Assim como o seu companheiro, Fabiano também destacou a
relevância do acompanhamento psicológico. “Estou sendo acompanhado com uma doutora
particular, mas a comissão disponibiliza psicóloga para todos os árbitros do
quadro. Sobre reuniões virtuais, a comissão está sempre fazendo lives conosco
sobre regras, parte física e psicológica”, completou.
De olho na retomada das atividades profissionais, o início
dos treinamentos dos clubes está previsto para o dia 1º de julho, Fabiano
revelou a ansiedade para retomar o caminho do apito. “Espero que tenhamos uma
retomada em breve, obviamente com os devidos cuidados, até porque ficar sem
futebol e sem apitar não dá certo (risos). Sempre almejei coisas grandes e
espero voltar e manter o nível técnico, físico e psicológico que estava
apresentando. Espero participar futuramente de uma pré-temporada dos árbitros
no final do ano, para estar no quadro de elite da FPF”, afirmou o árbitro que
esteve em seis partidas da última Copa São Paulo de Futebol Júnior.
“Dono do apito” na semifinal entre Corinthians e
Internacional, da Copa São Paulo, Matheus falou sobre o que esperar do período
pós-pandemia. “Mesmo esse ano sendo interrompido, fico muito feliz com o início
que tive. Sou novo, tenho uma carreira longa pela frente e estou usando esse
tempo para me aprimorar e voltar ainda mais preparado. A minha carreira está
apenas no início, então levo comigo que só conquistarei os meus objetivos
trabalhando forte e estando sempre pronto paras novos desafios, e é isso que me
deixa motivado e me faz querer sempre estar em evolução”, finalizou.
Por Redação Esporte Jundiaí – Federação Paulista de Futebol
/// Foto: Federação Paulista de Futebol